Os abalos provocados pela pandemia nos mercados mundiais não atingiram as exportações da carne bovina brasileira. Pelo contrário, a crise atuou como alavanca para os negócios e abriu caminho para novos e futuros compradores. A expectativa é que os desembarques da carne bovina lá fora ultrapassem neste ano o recorde de US$ 8 bilhões.
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“Há tratativas por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento com países que representam grande volume de compras e que estão ansiosos pela carne bovina brasileira, como o Japão, Canadá e Taiwan”, afirma Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec).
O desempenho previsto para o ano é animador, e deverá bater recorde nos embarques, prevê o executivo. “A expectativa é que o volume atinja 2 milhões de toneladas”, afirma. No ano passado já houve um salto de 15,5% no faturamento ao bater em U$ 7,59 bilhões, com um total exportado de 1,84 milhão de toneladas, aumento de 12,4%.
Nos primeiros nove meses as vendas de carne in natura e processada cresceram 19,7% na receita e 11% no volume frente ao mesmo intervalo do ano passado, ou seja, US$ 6,1 bilhões e 1,460 milhão de toneladas, respectivamente. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Abiec. “A China segue puxando as compras, com 57,4% do total exportado, mas outros mercados também registram aumento na demanda, como Egito, Chile, Rússia, Estados Unidos e Filipinas.”
O Brasil está preparado para atender demandas futuras, que virão no pós -pandemia. “Países que tiverem as cadeias mais organizadas, como o Brasil, terão a chance de aumentar sua participação em mercados globais.”
A Marfrig acredita que o mercado estará cada vez mais ávido pelo produto brasileiro e que os impactos da pandemia foram “positivos para a companhia”. No primeiro semestre a empresa registrou um desempenho histórico, com receita líquida de R$ 32,3 bilhões e lucro líquido de R$ 2,16 bilhões. “Isso representa um aumento de 48% nas vendas e 400% no resultado em relação ao mesmo período de 2019”, explica Alisson Navarro, diretor de exportações da Marfrig para a América Latina.
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A explicação para esse salto é compreensível, diz o executivo: quando o covid 19 chegou ao Brasil, o mercado asiático já estava, praticamente, retomando sua normalidade, enquanto o mercado interno brasileiro apresentava crescimento expressivo da doença, com a migração do food service para o varejo. A isso tudo junte-se a precificação do dólar a partir do segundo trimestre.
“Os impactos da pandemia no setor de produção e exportação de carnes da Marfrig foram positivos, e o terceiro trimestre também teve um desempenho excelente, com demanda ainda maior do mercado internacional, superando a oferta brasileira”, afirma. Segundo o executivo, a partir das próximas semanas, a disponibilidade de gado pronto para o abate deve melhorar com a chegada dos animais engordados no sistema intensivo de confinamento.
Os abates, de fato, apresentaram recuo de 8% no segundo trimestre comparado ao mesmo intervalo de 2019, contabilizando 7,301 milhões de cabeças, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De janeiro a março houve ligeiro crescimento, de 0,3%. Foi o pior resultado para um segundo trimestre desde 2011 provocado, em boa parte, pelos efeitos negativos da pandemia sobre o consumo de cortes de maior valor.
Para Navarro, as oportunidades no mercado internacional cresceram rapidamente nos últimos dois anos e já mostram uma participação relevante dos EUA. “É um mercado no qual nós temos uma margem melhor que em outros”, afirma. A exportação, diz, gira em torno de 70% da receita e a demanda por alimentos segue com forte tendência a aumentar nesse último trimestre, lembrando a conquista dos mercados europeu e tailandês, entre outros.
No primeiro semestre, o Brasil recebeu aprovação da Tailândia para exportar carne bovina com osso, desossada e miúdos. Inicialmente, cinco frigoríficos foram habilitados para os embarques.
O momento também é favorável para a exportação de carne bovina da Minerva Foods. Entre abril e junho, a receita bruta nas exportações atingiu R$ 3,3 bilhões, avanço de 16,1% na comparação anual. Para o presidente da companhia, Fernando Galletti, o bom desempenho foi obtido mesmo diante dos impactos da covid-19. O comportamento do mercado, explica, foi muito mais “volátil” nesse período, exigindo agilidade dos executivos. Foi o melhor segundo trimestre da história da empresa.
Fonte: Valor Econômico
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