Soja: tarifaço de Trump sobre a China pode abrir mercado de grãos

Guerra comercial deve aquecer demanda por grãos do Brasil, mas cenário exige políticas públicas, logística eficiente e segurança ao produtor, veja a seguir

O anúncio do novo tarifaço pelo presidente norte-americano Donald Trump, com alíquotas que somam agora 145% sobre produtos chineses, movimenta o mercado internacional e acende alerta para oportunidade de expansão do agronegócio brasileiro. Nesse cenário, o Brasil desponta como alternativa estratégica para suprir a demanda crescente por alimentos, especialmente soja, no mercado americano, no entanto, para transformar essa oportunidade em resultados concretos, os pequenos e médio produtores rurais dependem de um Plano Agrícola e Pecuário 2025/2026 que ofereça condições reais de competitividade.

Com a taxa Selic em 14,25%, o crédito agrícola se tornou mais caro e desafiador, exigindo que o próximo Plano Safra traga taxas de juros atrativas e instrumentos de apoio eficazes. Sem isso, o país corre o risco de perder uma chance estratégica de ampliar sua presença internacional justamente quando o mercado global está em movimento.

Conforme o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja MT) e vice-presidente da Aprosoja Brasil, Lucas Costa Beber, o país pode aumentar o fornecimento de soja para a China. Hoje, ela representa 52% das exportações e com a guerra comercial em andamento, essa participação pode crescer ainda mais.

Lucas Costa Beber – Presidente da Aprosoja MT

“Nós temos que ter cautela ao falar, porque o presidente Trump está forçando essas tarifas altas justamente para ter uma negociação justa. Então, a qualquer momento pode haver uma negociação e tudo voltar ao normal. Agora, é claro, se continuar, o Brasil, pode ser o maior fornecedor de soja para a China, como já é, tem sido e tem potencial de aumento de produção, convertendo áreas de pecuária em lavoura. Basta ter viabilidade econômica”.

Lucas Costa Beber – Presidente da Aprosoja MT

Em anos anteriores, o Brasil também expandiu mercado devido à guerra tarifária. Agora, o movimento pode se repetir. Além da China, a Europa também entra no radar. “Se de fato não houver acordo com a Europa, haverá grande oportunidade para o Brasil, especialmente se ocorrer prorrogação, ou até extinção da Lei Antidesmatamento, porque senão a Europa vai viver uma inflação muito forte por lá, se não comprar alimentos do Brasil”, explica.

Todavia, gargalos estruturais como a falta de armazenagem adequada, desafios logísticos e o custo elevado dos insumos, agravados pelo dólar alto, podem travar o avanço. O presidente da Aprosoja Mato Grosso destaca que a recente fala do Governo Federal sobre taxar exportações e reduzir tarifas de importação é preocupante.

“Quando se fala em zerar a tarifa de importação, abre-se espaço para a entrada de produtos subsidiados de outros países, onde os produtores contam com seguros agrícolas robustos e políticas públicas estruturadas. Isso nos obriga a olhar com ainda mais atenção para o nosso Plano Safra, que precisa garantir condições mínimas de competitividade ao produtor brasileiro.” Nós precisamos que os nossos produtores tenham um seguro agrícola que de fato garanta a renda caso haja frustração de safra, e nós precisamos de condições e viabilidade para produzir. Ao taxar a exportação e baixar a tarifa para importação, ele estará ajudando o mercado internacional e desestimulando a produção aqui. E, lá na frente, quando tiver menos produção, nós vamos ter que importar de fora a preço de dólar também, porque é o que o mercado internacional dita”, enfatiza Lucas Costa Beber.

Enquanto o cenário internacional se desenha, internamente o setor agropecuário ainda sente os reflexos da suspensão das linhas de crédito rural do Plano Safra 2024/2025, anunciado como “o maior da história”, mas interrompidas para novos financiamentos já em fevereiro. Agora, as atenções se voltam ao Governo Federal, que prepara o lançamento do novo Plano Safra 2025/2026, previsto para o final de junho.

“Com os juros nesse patamar, está muito difícil para o produtor rural — há um claro desestímulo à produção. Estamos enfrentando custos elevados, e muitos produtores já sinalizam que devem reduzir o uso de fertilizantes nesta safra. Isso pode impactar diretamente na produtividade e até refletir na inflação dos alimentos, já que os insumos continuam caros. Por isso, defendemos taxas de juros mais justas e a implementação de um seguro rural que cubra, no mínimo, o risco econômico da atividade. Hoje, esse seguro não cobre todos os custos enfrentados pelos produtores, ao contrário do que acontece com os agricultores europeus e norte-americanos. Isso nos coloca em desvantagem comercial”, ressalta.

Em meados de março, a entidade enviou contribuições ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para elaboração do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2025/2026 e entre as prioridades, elencou a necessidade de ampliação de recursos para armazenagem e equipamentos de combate a incêndios aos produtores rurais.

“Um dos pedidos da Aprosoja Brasil e da Aprosoja Mato Grosso, é que haja linha de crédito para equipamentos de combate ao fogo dentro das propriedades e também, que os produtores tenham – quem tem plano de combate a incêndios dentro das propriedades e quem faz o plantio direto que sequestra carbono – linhas de crédito com juros diferenciados para estimular cada vez mais os produtores. E, dar o recado lá fora para mostrar que os nossos produtores estão comprometidos com a sustentabilidade, e cabe ao Governo Federal enaltecer esse trabalho que os produtores brasileiros têm feito”, finaliza Lucas Costa Beber.

Diante do cenário, o tarifaço de Trump pode representar uma oportunidade estratégica para o Brasil, tanto no mercado chinês quanto europeu. A Aprosoja Mato Grosso e a Aprosoja Brasil seguem acompanhando as movimentações, para que os produtores tenham mais segurança e oportunidades na Safra 25/26. Clique aqui e acompanhe diariamente o agro.

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Dany Balieiro

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