Por que nós só comemos 1% das plantas que nossos tataravós comiam?

Segundo a ONU, o número de vegetais consumidos pelo homem caiu de 10 mil para 170 nos últimos 100 anos.

Jambu, ora-pró-nobis, assa-peixe, folha de begônia, bertalha… Elas parecem mato, mas são alimentos. E não julgue pela aparência: esses vegetais podem ir para a mesa de qualquer família, seja pelo sabor ou pelo valor nutritivo. Com um nome autoexplicativo, as PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) têm alto teor nutricional na dieta humana, embora muitas pessoas as confundam com “ervas daninhas”.

A lista ainda inclui espécies como taioba, peixinho, feijão-caupi ou catador, erva de touro, quiabo de metro, hibisco e caxi. “Muitas das vezes a pessoa tem uma dessas plantas no fundo de casa e acha que não pode usar ou comer”, afirma o engenheiro agrônomo Sidney Kock, da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), órgão vinculado ao governo de Mato Grosso do Sul. Recentemente, inclusive, Sidney participou de um curso em parceria com a Embrapa, voltado a agricultores familiares, estudantes e técnicos. “A ideia foi apresentar algumas variedades e ensinar as pessoas a identificá-las”, conta.

O engenheiro agrônomo explica que a mudança no perfil demográfico e no estilo de vida nas últimas décadas, com a população concentrada em centros urbanos, numa rotina cada vez mais agitada, acabou restringindo nossa visão quanto à diversidade de alimentos. “No Brasil, a gente tem uma biodiversidade de plantas de cerca de 2 mil espécies, mas a nossa alimentação gira na maior parte do tempo em torno de 20 espécies de folhosas”, exemplifica.

Contudo, nem sempre foi assim. Muitas PANCs costumavam ser consumidas por nossos antepassados. Porém, devido à agricultura convencional, que trouxe a produção em larga escala de espécies como o trigo e o arroz, e também devido ao afastamento do homem em relação à natureza, as plantas não convencionais acabaram perdendo espaço no cardápio.

“Atualmente, 70% dos alimentos mais produzidos são milho, soja, arroz e trigo. Os outros 30% ficam a cargo de alimentos como o feijão, a alface, a tomate, a mandioca, entre outros. E pensando ainda nessa linha macro, as PANCs têm uma presença ínfima em nossa alimentação”, enfatiza Sidney. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) calcula que, em todo o planeta, o número de plantas consumidas pelo homem caiu de 10 mil para 170 nos últimos 100 anos. “E por puro desconhecimento, perdemos assim o alto valor nutritivo destas espécies”, salienta o especialista.

Vegetais como a bertalha, por exemplo, foram substituídos na alimentação dos brasileiros por espécies como a couve, a rúcula e a própria alface. E não se engane: o que, hoje, não atrai o seu paladar, pode ser a base de muitos pratos chiques amanhã. A rúcula, por exemplo, já foi considerada uma erva daninha, e isso até pouco tempo atrás. Atualmente, é um dos vegetais que mais presentes em restaurantes e almoços de domingo. “Já há chefs de cozinha que usam várias PANCs para pratos conceituais e de sucesso no ramo da gastronomia”, destaca Sidney.

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Vicente Delgado

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