MT: Crise na suinocultura força granjas a cortar custos e encerrar atividade

A crise que afeta a suinocultura mato-grossense há cerca de um ano ameaça fechar granjas no Estado. Alto custo de produção, impulsionado pela inflação do milho e a baixa remuneração pelo quilo do suíno, o prejuízo chega a ser de R$ 1 por quilo vendido, são os motivos que pressionam produtores.

A escassez do milho no mercado interno, situação que já vinha sendo anunciada pela Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), deve piorar entre agosto deste ano até o fim do 1º semestre de 2017. Segundo o presidente da entidade, Raulino Teixeira, diante da possibilidade do preço da saca do cereal chegar a valores impraticáveis, o milho é o principal componente da ração dos suínos, o alerta se manifesta em um momento no qual os estoques públicos estão deficitários e a produção de milho comprometida, seja com os contratos futuros ou com a quebra da safra, que acumula retração de 22,8% nesta temporada.

De acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima-se que serão colhidas 20,223 milhões de toneladas de milho na safra 2015/2016, praticamente 6 milhões (t) a menos que na safra 2014/2015, quando foram produzidas 26,199 milhões (t) em Mato Grosso. “Os preços estão altos, granjas no Sul do país estão fechando e aqui em Mato Grosso além de cortar custos alguns suinocultores já começaram a encerrar as atividades. A notícia que recebi é que uma granja de 30 anos em Campo Verde, com cerca de 600 matrizes, está fechando. O produtor, com certeza, não consegue suportar até o final do ano, então a gente precisa de medidas urgentes para atender à cadeia”, afirma Raulino.

Para o produtor de Poxoréu, Tarcirio Antônio Gebert, os próximos meses serão difíceis para os suinocultores e o apoio do Governo é necessário. “Outros Estados conseguiram com que o Governo abaixasse a alíquota do ICMS, como Santa Catarina e aqui ainda estamos pagando 12%, isso pesa demais no orçamento. Por enquanto ainda estou mantendo funcionários, mas se continuar assim devo demitir nos próximo mês”, reclama.

Tarcirio diz ainda que outra dificuldade é conseguir farelo de milho. “Conversei e negociei com multinacionais e não consegui nada, todas preferem exportar e ganhar mais. Ainda bem que planto milho na minha propriedade para utilizar na suinocultura, porém a expectativa para a safrinha deste ano é de 60 sacas, comparada ao ano passado que foram 120 é muito pouco. O milho principal componente da ração dos suínos tem pesado no custo de produção”, ressalta.

O produtor de Rondonópolis, Ivo Anghinoni, também planta milho na propriedade para utilizar na suinocultura, porém não é suficiente para o que a granja precisa. O produtor informa ainda que pagar acima de R$ 30 pela saca de milho é inviável e não há como ter lucro desta forma. “Já são quase sete meses de prejuízo com a suinocultura, o milho está muito caro, devemos colher bem abaixo dos outros anos na safrinha por conta do clima. Se eu vendesse esse milho eu teria lucro, mas como uso para a suinocultura, eu fico na mesma. Os custos de mão de obra e nutrição aumentaram demais e estão pesando no orçamento da granja, a atual situação da economia brasileira também não ajuda. Nos próximos dias iremos nos reunir para decidir que custos cortar sem diminuir a qualidade da nossa produção”, queixa-se.

Diante deste cenário a Acrismat encaminhou um ofício ao secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Ricardo Tomczyk. O documento relata a preocupação com a elevação exorbitante no preço da saca de milho, que pode chegar próximo de R$ 50 ou até mesmo ultrapassar este valor, dependendo do nível de escassez. “Pedimos o mais rápido possível, alternativas de financiamento no sistema bancário, o aumento do prazo para pagamento dos Empréstimos do Governo Federal (EGF), porém com valor mais próximo da realidade de mercado atual, média de R$ 35 sendo hoje o valor do milho na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) de R$ 13,56”, afirma o diretor executivo da Acrismat, Custódio Rodrigues.

Além disso, a associação enviou um ofício ao ministro Blairo Maggi, solicitando o preço mínimo do milho em Mato Grosso passe para R$ 18,09 e a revisão da política de crédito, com aumento de prazo para pagar os débitos junto ao governo federal. “Além do custo com o milho, falta de incentivos por parte do Governo Federal, outro ponto é a retração do consumo, visto a situação econômica do país. O consumo da carne suína caiu muito, tanto é que está sobrando carne nos frigoríficos, a ponta não vende e isso reflete no produtor também”, revela Custódio Rodrigues.

Suinocultura – Hoje, a suinocultura em Mato Grosso gera 3.505 empregos diretos e 10.515 indiretos. Ao todo são 416 granjas comerciais espalhadas em 33.678 propriedades cadastradas no Estado. O Estado possui um plantel de 1,5 milhão de cabeças de suínos, dos quais 138 mil são matrizes. As informações são da assessoria.

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Vicente Delgado

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