O milho ocupa hoje o segundo lugar entre as culturas agrícolas mais relevantes do Brasil. Só na safra 2024/25, a estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é de uma colheita de 124,7 milhões de toneladas, em uma área plantada que ultrapassa 21 milhões de hectares. No centro desse cenário está o Mato Grosso, estado que tem se consolidado como potência na produção do grão, com previsão de colher impressionantes 45,85 milhões de toneladas.
Grãos ardidos no milho
Mas o milho mato-grossense não serve apenas para alimentação — ele também tem protagonismo na produção de etanol. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a estimativa é de mais de 5,2 bilhões de litros de etanol à base de milho, o que representa cerca de 80% do total produzido no estado. Diante de números tão expressivos, é fácil perceber por que o manejo adequado da lavoura se tornou uma peça-chave na rotina do produtor rural — especialmente quando o assunto são doenças que ameaçam diretamente a qualidade dos grãos, como os chamados grãos ardidos.
Esses grãos, visivelmente escurecidos e com odor alterado, são causados principalmente por fungos do gênero Fusarium e Diplodia. Além de comprometerem a aparência do milho, eles podem provocar fermentações indesejadas e contaminar o produto com micotoxinas, substâncias tóxicas tanto para humanos quanto para animais. O resultado? Um grande obstáculo na comercialização do milho, com sérias perdas econômicas.
E o que está por trás dessa contaminação? Diversos fatores contribuem para o aparecimento dos grãos ardidos, entre eles o uso de cultivares mais suscetíveis, plantios muito densos, danos por pragas e até mesmo falhas na nutrição da planta. No entanto, as condições climáticas desempenham um papel crucial: temperaturas elevadas, variações bruscas durante a floração e o enchimento dos grãos, além de chuvas e alta umidade na fase final da cultura, criam um ambiente ideal para a proliferação dos fungos. Ventos fortes também ajudam a espalhar os esporos, aumentando ainda mais a incidência da doença.
Como identificar e evitar
A boa notícia é que há como agir. A prevenção começa com a escolha de híbridos mais resistentes, que aliem alta produtividade com grãos de qualidade e tolerância a umidade — e, de preferência, com ciclo mais curto, permitindo colheita antecipada e menor exposição a condições climáticas adversas. Além disso, uma série de práticas integradas faz toda a diferença: manter uma população equilibrada de plantas, garantir nutrição adequada (com atenção especial ao nitrogênio e ao potássio), aplicar fungicidas de forma criteriosa e adotar o sistema de rotação de culturas.

Quando bem executado, esse conjunto de ações reduz significativamente a presença de grãos ardidos e melhora a performance da lavoura. Mais do que proteger o investimento, um manejo bem planejado é o que separa uma colheita mediana de uma safra realmente bem-sucedida — tanto em qualidade quanto em rentabilidade.
Como se vê, cuidar da sanidade do milho não é só uma questão agronômica, mas também estratégica. Afinal, em um mercado cada vez mais exigente, o detalhe pode ser o diferencial.
Com informações técnicas de Alcides Ita – Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e atua como agrônomo de campo da Pioneer®, marca de sementes da Corteva Agriscience.
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