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Tomemos como exemplo a venda de maior volume de produto com maior valor agregado, menor custo de inventário (carrying costs), gastos evitados com penalidades e assimetrias de informação e, eventualmente, promovendo uma maior eficiência com a redução de fertilizantes, diesel, absenteísmos, acidentes, consumo de água e até redução das emissões de gases de efeito estufa. Transparência, portanto, pode ser uma estratégia para aumentar a lucratividade do negócio.
Dessa forma, é compreensível a busca de uma fonte que possibilite uma melhor compreensão e acompanhamento da composição e dinâmica do consumo de açúcar dentro do País. Trata-se de um desafio? Uma pesquisa complexa? Sem dúvida não é trivial, porém já foi realizada pelo Cepea, a pedido da Unica, ao final dos anos 2000.
Com os avanços tecnológicos na área de sistematização de dados e conhecimento acumulado a respeito do mercado desde este período até o momento atual, tal iniciativa, feita a princípio de forma pontual, poderia ser facilmente sistematizada e atualizada com a frequência que os gestores considerarem necessário, sendo essencial, no entanto, a colaboração para a obtenção de tais informações.
Quem consultar o Sugar Semi-Annual do USDA, elaborado pelos técnicos do Consulado dos EUA no Brasil e disponibilizado gratuitamente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), verá que este explicita que o Brasil “não tem uma fonte oficial sobre consumo de açúcar”. Somos os maiores produtores e exportadores mundiais há décadas, mas não temos dados sobre como o açúcar se movimenta dentro do País.
Existem, certamente, iniciativas bem fundamentadas nesse sentido, mas apresentadas de forma esporádica. Encontramos, por exemplo, apresentação bastante interessante e bem ilustrada publicada pela EDFman para a safra 2010/11, que aparentemente relaciona os estados superavitários e deficitários em termos da commodity à taxa de ICMS incidente sobre o açúcar por estado.
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Parece um desafio interessante buscar identificar quais as regiões ou estados nacionais superavitários e quais os deficitários ao longo do ano (civil), ainda que em termos percentuais, por tipo de açúcar (pelo menos VHP, Cristal e Refinado), embalagem (saca, big-bag ou líquido), agentes de comercialização envolvidos (vendas inter-usinas, atacadista, varejista, indústria (refrigerantes, alimentos processados, lácteos, dentre outros).
Quando, ao final dos anos 2000, o Cepea realizou o levantamento, foram selecionados 18 estados nacionais: SP, PR, RJ, ES, MG, MS, GO, MT, PE, AL, PB, SE, RN, BA, PA, PI, AM e MA. Resultados interessantes foram obtidos para o ano de 2010. Por exemplo:
- De 10,36 milhões de toneladas de açúcar direcionadas para o mercado interno, 8,7 correspondem a vendas realizadas para estados do Centro-Sul e 1,66 milhão de toneladas foram vendidas para o Norte e Nordeste.
- Deste total, a indústria absorveu 52%, o varejo, 31% e o restante foi vendido ao atacado (18%).
- As vendas para as indústrias de alimentos e bebidas foram desagregadas em nove categorias, cada uma acompanhada de seu percentual: nas vendas diretas das usinas para o varejo, 59,28% foram de açúcar refinado amorfo e granulado; 40,39%, de cristal; 0,29% de líquido e 0,04%, de VHP.
Esses e diversos outros aspectos puderam ser levantados, com o devido apoio do setor em todos os 18 estados selecionados. Analisando atualmente, tais características se mantêm? E se tivéssemos essas informações, a princípio, para cada trimestre do ano? Seria interessante? Devemos tentar a implementação desta atividade?
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Consideremos uma questão recorrente: e as cláusulas contratuais que impedem a informação sobre compras pelas grandes empresas vão impedir o levantamento? Não, considerando-se que os dados sobre volume necessários pelo Cepea são agregados e a fonte individual não se identifica.
Além do que, embora o lado consumidor de açúcar no mercado interno venha a perder um pouco de autonomia por ocasião das negociações, com certeza compreenderão os pontos positivos de tal iniciativa também para seu planejamento, na forma de um atendimento menos oneroso face à possibilidade de melhorar a logística, dentre outros fatores.
Por Heloisa Lee Burnquist/ Professora da Esalq/USP e pesquisadora do Cepea
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